Surf no Piauí: Elas no mar, o novo cenário local

Surf no Piauí: Elas no mar, o novo cenário local

 A praia da Pedra do Sal, principal pico de surf de Parnaíba, tem sido o cenário onde a mágica acontece para as surfistas locais. Em 40 anos de história do surf piauiense, o esporte foi dominado majoritariamente por homens. O público feminino, por muito tempo, se resumia a, no máximo, duas surfistas na água.

Com as mudanças trazidas pela pandemia, a praia tornou-se refúgio para muitas parnaibanas. Algumas mulheres, ao se interessarem pelo surf, encontraram barreiras: além da falta de representatividade, enfrentaram experiências marcadas pelo preconceito e pela exclusão.

Foi então que, impulsionadas pela vontade de mudar esse cenário, decidiram se unir. A partir da iniciativa de duas surfistas, nasceu um coletivo feminino, que hoje conta com cerca de vinte mulheres. Surgiu o ” Elas no Mar”, o movimento fortaleceu a presença das mulheres no esporte e inspirou outras a entrarem no mar.

Coletivo Elas No Mar
Surfistas na Pedra do Sal, Foto: Mariana Medeiros



Desafios e resistência

Em ambientes onde a maioria dos praticantes ainda é masculina, as mulheres relatam dificuldades associadas a estereótipos de gênero. Em entrevista, Ana Beatriz, surfista da Pedra do Sal, comentou sobre os obstáculos enfrentados:
“O surf já é difícil por si só. É desafiador, exige paciência e dedicação. Cada progresso é uma vitória. Para nós, mulheres, ainda existe o agravante do preconceito. Muitos não nos levam a sério. Acreditam que, por sermos mulheres, somos frágeis.”

Situações de desrespeito são comuns. Luna Marceli, 19 anos, relata já ter se sentido desconfortável dentro do mar, especialmente ao surfar de biquíni.
“Já me senti observada e julgada várias vezes. Muitos homens não dão espaço e encaram as mulheres de forma inadequada. Por isso, prefiro surfar de lycra ou roupa de neoprene. Me sinto mais segura assim”, afirma.

Apesar dos obstáculos, o coletivo segue crescendo e fortalecendo o cenário feminino no surf piauiense. Para muitas, a união entre as surfistas tem sido uma motivação importante — não apenas para continuar, mas também para disputar campeonatos.

Reprodução Instagram Coletivo Elas no Mar



Coletividade como força

Bicampeã piauiense de surf, Myrella Duvalle destaca o impacto desse crescimento:
“Hoje vemos mais meninas no mar. Antes, surfar era um ato solitário. Agora, com esse coletivo, despertamos umas às outras. Isso é transformador.”

Ela também chama atenção para a desigualdade de gênero no esporte:
“O surf feminino não está crescendo agora, ele sempre existiu. O que mudou foi a união. Essa força coletiva é o que nos impulsiona.”

Representatividade que inspira

Reprodução Instagram Coletivo Elas no Mar


Laryssa Menezes, 23 anos, afirma que a presença de mais mulheres no mar tem um efeito inspirador:
“Eu tô extremamente feliz com os resultados atuais, porque eu nunca vi tanta mulher no mar. Isso me motiva tanto que você não tem ideia. Às vezes nem quero entrar, mas se vejo outra menina na água, isso já me dá coragem.”

Apesar do machismo, da falta de incentivo e das limitações de estrutura, essas mulheres seguem firmes, transformando o cenário com amor pelo esporte e união. São esses os pilares que as mantêm dentro d’água — e em movimento.

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