Má semente: o início do declínio piauiense

Má semente: o início do declínio piauiense

O problema de Teresina — e do Piauí — não é por acaso.

A invasão sangrenta que aqui aconteceu deu início a tudo. Uma elite pífia se apossou de terras e cargos para cometer crimes contra os povos originários e favorecer certos sobrenomes. Construíram, sobre o saque, o que hoje chamam de “progresso”. Nossa cultura foi cortada desde que nos “descobriram”. Nos mataram. E continuam nos matando.

O reflexo disso está aí: os mesmos sobrenomes, as mesmas famílias, as mesmas caras, a mesma cor e a mesma classe financeira ocupando o poder em todas as esferas. Nas secretarias, nos cargos de decisão, na Justiça, na Câmara, na Assembleia, nas coordenadorias. Sempre ditando o tal “desenvolvimento” — do próprio bolso.

O desenvolvimento é uma falácia.
Mascarado de asfalto e promessas de saúde.
Nada, de fato, se desenvolveu.

Imagem gerada com IA (DALL·E / OpenAI), sob direção de Mariana Medeiros.

Querem vender a ideia de um “estado digital” sem que sequer tenhamos chegado ao analógico. Corremos para frente como se isso fosse solução, quando ainda faltam peças básicas no ponto de partida.

Precisamos virar essa chave troglodita.
Parar de aceitar o subzero como destino.
Pagamos caro para ver bolsos sendo enchidos, enquanto maquiam desenvolvimento com esmolas de hospital e pavimentação.

Está mais do que na hora de parar de bater palminha em postagem de político. Precisamos dialogar de verdade. Ninguém nos aplaude por fazermos o mínimo. E muitas vezes, nem isso nos é permitido fazer.

Nosso povo precisa se envolver. Deixar de bancar banquetes para receber migalhas.
Criar amor-próprio.
Deixar de ser província.
Deixar de ser a “capital da depressão”.
Deixar de querer ir embora.
Deixar de se odiar.

Imagem gerada com IA (DALL·E / OpenAI), sob direção de Mariana Medeiros.

Temos história. Temos antepassados massacrados. Crimes cometidos e acobertados até hoje por quem ainda está no poder.
Cultura não é opcional.
Entretenimento é só uma parte da cultura.
Patrocinar show de forró ruim, para o povo se embriagar e nada mudar, não é política cultural.

O entretenimento pode e deve existir, mas cultura é mais. É o que nos veste. É quem somos quando cruzamos a fronteira da ignorância imposta.

As coisas só vão mudar quando essa chave virar.
Cultura não é acessório.
Não se deve cortar verba de cultura.
Cultura é oxigênio. E não se corta oxigênio — a morte é certa.

Por isso muitos se sentem perdidos aqui.
Alguns tiram a própria vida.
Nosso ex-prefeito tirou a própria vida.
Nossa parlamentar mais próxima da revolução que esse estado precisa morreu sob pressão — e tentaram apagar o seu legado.

Isso não diz nada?

Quem tenta mudar as coisas, sofre.

Trindade nos mostrou a verdadeira face de uma parlamentar comprometida.
Nego Bispo nos ensinou que não dá mais para viver assim.
Somos circulares, não retilíneos.
Avançar sem tocar nas bordas não resolve.
Somos cheios de vida.

Não temos lazer gratuito.
Não temos acesso à verdadeira divindade.
Aqui se vai à igreja enquanto se poluem os rios.

Deus não está no que o homem construiu — Deus está no que Ele construiu.

Não precisa crer em espiritualidade.
Mas é preciso crer no que se respira, onde se pisa, de onde vem a comida e a vida.

Imagem gerada com IA (DALL·E / OpenAI), sob direção de Mariana Medeiros.

Desvalorizamos dois rios.
Dois rios.

Aqui se aplaude corte de verba para cultura, porque isso perpetua o plano de quem invadiu e se apossou das nossas terras e do nosso povo sem permissão.

A cultura é o que nos moveria.
É o que nos ensinaria a pensar.
É a ferramenta que pode nos tirar da lógica dos desfalques.

A cultura é a nossa bússola.
É a nossa chance.
Nossa grande chance.

É isso que a gente (também, e mais) precisa.

Com amor e indignação.

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