“Eu acredito que não tem nada mais justo do que a gente afrontar o apagamento carregando o nome daqueles que já estavam aqui.”
A frase é de Victor Anapuru Muypurá, jovem indígena de 20 anos que, no dia 11 de abril de 2025, fez história ao conquistar o direito de ter o nome do seu povo na certidão de nascimento. Ele se tornou o primeiro indígena do Piauí a realizar a inclusão do nome étnico no registro civil, rompendo com mais de 200 anos de apagamento e silenciamento imposto aos povos originários do território piauiense.

O processo foi iniciado em 27 de fevereiro de 2025, quando Victor procurou a Defensoria Pública do Estado do Piauí, em Teresina, para solicitar a alteração. A instituição confirmou ao Piauiensidades que nunca havia recebido uma demanda semelhante e, por isso, o caso foi tratado como inédito.
Victor explica que a conquista vai muito além do reconhecimento pessoal:
“Desde pequeno, os mais velhos sempre ensinaram para a gente sobre o orgulho do nosso sangue, da nossa história, dos conhecimentos e dos costumes antigos. Essa chama ancestral permanece acesa até hoje e me faz ter orgulho dessa história que a gente carrega. Agora, ao trazer o nome do meu povo nos meus documentos, eu sinto que honro aqueles que vieram antes de mim.”
Victor é natural de Teresina e carrega em sua identidade a história do povo Anapuru Muypurá, originário do Maranhão. Sua família migrou para a capital piauiense há mais de 30 anos em busca de melhores condições de vida.
Ao celebrar a conquista, o jovem deixa um recado para outros parentes indígenas: “O conselho que eu deixo é que busquem ter a certidão com o nome do seu povo. Esse direito já é um basta ao apagamento histórico e cultural. É honrar nossa história e mostrar que o Piauí é terra indígena, de muitos povos que resistem e existem.”

COMO SOLICITAR A INCLUSÃO DE NOME ÉTNICO
De acordo com a Defensoria Pública, para a inclusão do nome étnico é necessário apresentar certidão de nascimento, documentos pessoais e uma declaração assinada pelas lideranças da etnia reconhecendo a pessoa. O processo pode ser feito de forma administrativa no cartório, caso o indígena não se encaixe no perfil socioeconômico para atendimento na instituição.

A instituição ainda destaca que a Resolução Conjunta CNJ/CNMP nº 3/2012 assegura a qualquer indígena, ao atingir a maioridade, o direito de adotar o nome étnico, ainda que isso não tenha sido feito no ato do nascimento.
A sede da Defensoria fica na Rua Nogueira Tapety, 138, Bairro Noivos, na capital do Piauí e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h.